terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Oração do Cadáver ao Desconhecido


     Encontrei essa oração no blog  Coletânia Estreita do, então estudante de Medicina, Carlos Eduardo (Só li uma oração desse tipo em um convite de formatura de alunos de Medicina). No post ele falava sobre sua primeira aula no laboratório de anatomia. Achei o texto interessante e por isso decidi postar aqui também.

"Acorde estudante! Estás tão absorto... Afinal, aqui dentro, qual de nós é o morto? Calma! Não te assustes, sou eu quem te fala, mesmo porque só restamos nós dois nesta sala! Pega aí o seu banquinho, te acomodes aqui... Põe de lado estas pinças, guarde o teu bisturi! Fiques bem à vontade, bata um papo comigo. Pois,  já que estudas em mim, quero ser seu amigo!  Já faz tempo que espero esta oportunidade de ouvir seus  lamentos, escutar tuas verdades. Sei que estás com problemas, eu já pude notar, o que é que há meu garoto, não vais mais estudar?  Eu me lembro, no início, eras tão sonhador, tu te chegavas, me estudavas com  tanto fervor, que eu pensava comigo, este aí tem valor. Há de ser bom médico, nunca vai ser DOUTOR.  Mas, depois suas visitas foram rareando. Tu me olhavas de lado, ias te esquivando, e nos dias de aula, quando as manhãs iam altas, na  presença de todos eu sentia sua falta.  Sei que tens bons motivos, isto lá é verdade, mas, vê se deixas de lado  esta sensibilidade! Sim, eu sei que é um sentimento belo e profundo,  mas do que adianta, tu vais mudar o mundo? Não, não te preocupes, não te julgo vadio, sei que tu tens orgulho, sei que tem teu brio, sei que tua revolta não é comigo, e sim, contra este ensino arcaico e falido, desumano e irreal que te é impingido. Mas escuta menino, dê a volta por cima, veja quanta beleza tem esta medicina! Estas coisas de agora são ossos do ofício, valoriza a vitória, o maior sacrifício. Tome em mim um exemplo, meu irmão querido, retroceda no tempo, que hás de me dar razão. Imagines, eu vivo e tu já formado, tendo a oportunidade de me haver curado. E a gente batendo este papo em total alegria, sem que eu tivesse deitado nesta pedra fria.
Êpa, que é que eu estou vendo, estás chorando garoto? Vamos enxugar o pranto deste rosto maroto, levante a cabeça e me dê um sorriso, reaja com raça que isto  é preciso, vá lá fora e te cubra com raios de sol, se te virem chorando, diz que foi o formol. "


-Autor Desconhecido

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